terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Pastéis de Belém

Titula o DN: "Durão em Portugal a preparar a resposta europeia para a crise". Na notícia vem o detalhe da agenda: encontro com Sócrates dura 90 minutos , com Cavaco 25!


- Olá está bom? Sente-se!

- Não, não, obrigado, sente-se primeiro o Sr. Presidente, afinal de contas, o José Manuel é o Presidente de todos nós!

- Ah! Obrigado. Como é que está o Aníbal?

- Bem!

- E a sua mulher?

- Óptima! Sabe como é, adora ser a primeira dama.

- E os seus filhos?

- Ainda estão a curar a narsa que apanharam na noite da minha reeleição, fartaram-se de beber medronho que me mandaram de Boliqueime. Tirando isso, estão muito bem. Adoram Portugal. Fico contente por lhes ter incutido esse sentimento. Disse-lhes sempre: Antes de deixarem o país deixem obra feita. Nunca abandonem o barco!

- Sim, sei como é isso. Digo exactamente o mesmo aos meus filhos. E os seus netos?


- Estão uns rapagões! Nunca se enganam. Sou miúdos duma seriedade impressionante. Óptimos! Tenho tido sobre eles uma magistratura de influência. Já sabem fazer contas.

- Bom, foi óptimo revê-lo.

- Também tenho esse sentimento. Também eu tenho esse sentimento!

- Aníbal, tem ideia se está muito trânsito para chegar a São Bento?

- Com esta chuva, é capaz! Mas porquê?

- Já passaram 25 minutos e eu tenho encontro marcado com o Zé. Ele é porreiro, pá! Não quero fazê-lo esperar.

- 25 minutos? Já? Passou tão rápido. É sempre assim quando a conversa é interessante.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

De novo vieste em Flor

    
Para os fiéis jardineiros da Democracia chamar-lhe somente revolução não chegou.  No floreado dos textos, análises e exortações humanistas logo surgiu um inspirador nome para a luta que milhões de Magrebinos travam, com a própria vida se necessário for: Jasmim! "A revolução de Jasmim!"
Se aos bois é preciso chamá-los pelos nomes também se percebe que o mesmo se faça com as revoluções. Afinal de contas, há revoluções e revoluções. E o mesmo acontece com os chapéus e com os Jasmins: Há muitos.

                  Qual será o Jasmim que vai florescer no Norte de África? O mesnyi, ou Jasmim-amarelo (sem aroma), o nitidum, ou Jasmim-estrela,  o officinale, ou Jasmim-verdadeiro, o polyanthum, ou Jasmim-dos-poetas?

                Neste momento, a terra para lá da margem sul do Mar Mediterrâneo está fértil para todos os tipos de Jasmim. E se por agora, no Egipto, até podem coabitar todos, no futuro a natureza da coisa revolucionária fará a sua selecção.

                Por cá, tanta flor activa-me o olfacto, e eu cheiro que a breve trecho saberemos se a revolta magrebina não passou de um jasmim encantatório de poetas, sem ir além de uma vulgaríssima flor amarela, falha de aroma e longe, muito longe, de ser o “nitidun” brilho de estrela democrática no Médio Oriente.

               Olhando para as imagens que nos chegam da praça da Libertação, no Cairo, não encontro um único pedaço de terra, nada vejo onde pudesse ser semeado um Jasmim.  No entanto, sinto que tudo ali pode florescer. Está tudo em aberto.

             Mais dia menos dia, haverá um desfecho “officinale”, surgirá sempre o Jasmim-verdadeiro.  Com ele o Mundo até poderá ficar mais amarelo, de sorriso amarelo, sem musas para poetas cantarem as virtudes e encantos da Democracia. Mas alegrem-se os verdadeiros fiéis da Democracia, pois, seja qual for o Jasmim a florir no Egipto, o Mundo será mais verdadeiro do que tem sido.