domingo, 23 de janeiro de 2011

Indubitavelmente duvidoso

Antes que surjam as projecções de resultados dentro de alguns minutos, seguem umas murraças, obviamente figuradas, no titular do órgão de soberania que esta bandeira simboliza. Tendo em conta a agradável noite que espera Cavaco Silva, não lhe devem fazer grande mossa.

Vão elas a propósito, não do abundante material oratório disponível na campanha eleitoral, mas da mensagem que Cavaco Silva enviou à Assembleia da República a 13 de Dezembro do ano passado. O Presidente promulgou então, insatisfeito, a lei de financiamento dos partidos. Lia-se nos jornais que Cavaco a promulgava apesar da existência no diploma de "opções normativas indubitavelmente questionáveis". Para afastar qualquer suspeita de invenção jornalística, basta consultar no próprio site da Presidência a mensagem em causa, cujo ponto 6 arranca da seguinte forma: "Estas opções normativas, indubitavelmente questionáveis (...)".

Portanto, Cavaco Silva, ou alguém por ele autorizado, escreveu-o mesmo. A consulta a qualquer dicionário elucida-nos, caso se tenha dúvidas, que o advérbio "indubitavelmente" deriva do adjectivo "indubitável", cujo significado é o de algo que não admite dúvida. Quanto a "questionáveis", trata-se do plural do adjectivo "questionável", que significa "discutível" ou "problemático" ou... "duvidoso".

Temos assim que a expressão "indubitavelmente questionáveis" pode ser substituída por várias outras que em nada lhe alteram o sentido, lhe reduzem a clareza ou a eficácia comunicacional. Por exemplo, "indubitavelmente discutíveis". Ou "questionavelmente indubitáveis". Ou, a minha preferida, "indubitavelmente duvidosos".

Não deveria ser necessário recorrer a qualquer dicionário para compreender que a expressão eleita pelo Presidente, "indubitavelmente questionáveis", não significa absolutamente nada senão que o nosso país continua a ser servido nas mais altas esferas não só por políticos da treta, como por juristas da treta e assessores da treta.