Aposto que o próximo vai ser uma
próxima, ou então o próximo vai ser executado por uma centuriona,
sim! tipo com sotaque, assim, tipo... tipo de Trastevere, não? É... ou, então, de
Almada?
Um ano depois, na semana passada, volta
à carga a mesma instituição de ensino. Ensino em sentido afim ao
de uma madrassa. No papel de professor, brilha fulgurantemente, com a
fulgência de uma cimitarra sob o sol a pique do deserto sírio, uma
deputada do psd. Ofuscando mais os ouvidos do que os olhos da plateia
de juvenis laranjas, e a propósito do vídeo publicado na internet
com a segunda decapitação de um refém americano pelo Estado
Islâmico, a parlamentar e palestradora afirma:
«Ontem apostava com um colega que a
segunda execução seria ou de uma mulher ou uma execução cometida
por uma mulher, porque não foi por acaso que tivemos uma execução
em directo e que a execução é feita com um europeu..."
E nós todos que estávamos convencidos
que não tínhamos tido uma execução em directo!... E nós todos
que estávamos convencidos que tinha sido por acaso que a execução
tinha sido feita por um europeu!... Oh, louvai o Senhor! Graças à
Providência, existem mentes tão relampejantes como um relâmpago na
arenosa noite da nossa desolação intelectual que nos iluminam o
caminho rumo à clarividência de que não há acasos num Universo
com o psd e com a sua profeta, a 13ª eleita para são bento na lista
por Lisboa.
Sim, senhor. Mas, para os não crentes
em macacadas, restam os factos. Nem a parlamentar e palestradora teve
uma execução em directo, nem teve nenhum de nós, Portugueses, ou
habitantes da Europa Ocidental, nem sequer o público televisivo
iraquiano ou sírio, nem nenhuma pessoa que não seja o tarado
executor com sotaque do sul de Inglaterra, o executado Steven Sotloff
e os outros pulhas muçulmanos que filmaram e viram in loco a
execução.
Outro facto: por mais que a parlamentar
laranja tenha apostado com um colega que "a segunda execução
seria ou de uma mulher ou uma execução cometida por uma mulher",
a execução não foi nem uma coisa nem a outra que ela apostara que
seria. A deputada e oradora na palestra daquela instituição de
ensino não é, portanto, uma profeta, é uma apostadora
incompetente. E outro facto ainda mais refulgente: a 13ª deputada do
psd eleita por Lisboa não teve qualquer pudor em afirmar em público,
num acontecimento com considerável cobertura mediática, que apostou
com um colega sobre quem seria o próximo decapitado pelo Estado
Islâmico.
As palavras desta parlamentar são de
uma luminosidade cegante, tal como um ferro em brasa ilumina pela
derradeira vez o olhar de um Miguel Strogoff. Ao contrário dos
insultos por ignorância e soberba que o monetário Carlos dirigiu à
universidade e ao Verão há um ano, as afirmações públicas desta
frustrada profeta, avalizada pelo psd como oradora à juventude, não
insultam nada senão eventualmente ela própria. E o colega com quem
apostou, já agora.
Se bem que... Se bem que, por
eventualidades dessas, o poder ateniense obrigou Sócrates a tragar a
cicuta. Mas a apostadora incompetente nada tem a temer nesse aspecto.
É fisicamente impossível decapitar quem não tem cabeça. Sugiro
por isso que, sem qualquer receio, satisfaça a sua compulsão pelo
jogo palpitante da vida e da morte, passando a apostar na roleta. Na
russa, é claro. E como jogadora activa, não meramente académica....
Se preferir a versão de jogadora virtual, num espectacular ecrã de
milhentas polegadas e toneladas de pixels hd, também ninguém leva a
mal.