Antes que surjam as projecções de resultados dentro de alguns minutos, seguem umas murraças, obviamente figuradas, no titular do órgão de soberania que esta bandeira simboliza. Tendo em conta a agradável noite que espera Cavaco Silva, não lhe devem fazer grande mossa.
Vão elas a propósito, não do abundante material oratório disponível na campanha eleitoral, mas da mensagem que Cavaco Silva enviou à Assembleia da República a 13 de Dezembro do ano passado. O Presidente promulgou então, insatisfeito, a lei de financiamento dos partidos. Lia-se nos jornais que Cavaco a promulgava apesar da existência no diploma de "opções normativas indubitavelmente questionáveis". Para afastar qualquer suspeita de invenção jornalística, basta consultar no próprio site da Presidência a mensagem em causa, cujo ponto 6 arranca da seguinte forma: "Estas opções normativas, indubitavelmente questionáveis (...)".
Portanto, Cavaco Silva, ou alguém por ele autorizado, escreveu-o mesmo. A consulta a qualquer dicionário elucida-nos, caso se tenha dúvidas, que o advérbio "indubitavelmente" deriva do adjectivo "indubitável", cujo significado é o de algo que não admite dúvida. Quanto a "questionáveis", trata-se do plural do adjectivo "questionável", que significa "discutível" ou "problemático" ou... "duvidoso".
Temos assim que a expressão "indubitavelmente questionáveis" pode ser substituída por várias outras que em nada lhe alteram o sentido, lhe reduzem a clareza ou a eficácia comunicacional. Por exemplo, "indubitavelmente discutíveis". Ou "questionavelmente indubitáveis". Ou, a minha preferida, "indubitavelmente duvidosos".
Não deveria ser necessário recorrer a qualquer dicionário para compreender que a expressão eleita pelo Presidente, "indubitavelmente questionáveis", não significa absolutamente nada senão que o nosso país continua a ser servido nas mais altas esferas não só por políticos da treta, como por juristas da treta e assessores da treta.